21 de junho de 2011

A Existência de Deus e o Início do Universo ( 1 ).


Mensagem:Deus revela-se aos Homens com o Pr:Jairo Batista


Mensagem:Deus revela-se aos Homens com o Pr:Jairo Batista

Neste artigo, o filósofo cristão Dr. William Lane Craig apresenta uma versão do argumento cosmológico em favor da existência de Deus. Com base em dois argumentos filosóficos e duas confirmações científicas ele demonstra que é plausível que o universo teve um começo. Como tudo o que começa a existir tem uma causa, deve haver uma causa transcendente para o universo.


“A primeira questão que certamente deve ser perguntada”, escreveu G.W.F. Leibiniz, é “Por que existe algo em vez de nada?” 1. Esta questão parece ter uma força existencial profunda, que tem sido percebida por alguns dos maiores pensadores da humanidade. De acordo com Aristóteles, a filosofia começa com um senso de assombro sobre o mundo, e a mais profunda questão que um homem pode fazer relaciona-se com a origem do universo2. Em sua biografia de Ludwig Wittgenstein, Norman Malcolm relata que Wittgenstein disse que algumas vezes ele teve certa experiência que poderia ser mais bem descrita dizendo-se que “quando a tenho, eu fico assombrado com a existência do mundo. Então sou inclinado a usar frases como ‘Quão extraordinário é que algo deva existir’” 3 Similarmente, um filósofo contemporâneo observa, “… Minha mente muitas vezes revira-se diante do imenso significado que esta questão tem para mim. Que algo exista de alguma forma parece-me um assunto para o mais profundo temor.” 4







Por que existe algo em vez de nada? Leibiniz respondeu esta questão argumentando que algo existe em vez de nada porque existe um ser necessário que carrega consigo sua razão para a existência e é a razão suficiente para a existência de todo ser contingente5.


Embora Leibiniz (seguido por certos filósofos contemporâneos) tenha considerado a inexistência de um ser necessário como logicamente impossível, uma explicação mais modesta da necessidade da existência chamada de “necessidade factual” foi fornecida por John Hick: um ser necessário é um ser eterno, não-causado, indestrutível e incorruptível6. Leibiniz, é claro, identificou o ser necessário como Deus. Seus críticos, entretanto, contestaram esta identificação, sustentando que o universo material poderia ele mesmo receber o status de um ser necessário. “Por que”, perguntou Hume, “não poderia o universo material ser o Ente necessário, de acordo com esta pretensa explicação de necessidade?”7. Tipicamente, esta tem sido precisamente a posição do ateu. Os ateus não se sentiram compelidos a abraçar a visão de que o universo veio a existir do nada sem nenhuma razão; ao invés disso, eles consideraram o universo mesmo como um tipo de ser factualmente necessário: o universo é eterno, não-causado, indestrutível e incorruptível. Como Russel claramente colocou, “…O universo está aí, e isto é tudo”8


Será que o argumento de Leibniz nos deixa, portanto, em um impasse racional ou será que não existem mais recursos disponíveis para desvendar o mistério da existência do mundo? Parece-me que existem. É lembrado que uma propriedade essencial de um ser necessário é a eternidade. Se, então, puder se demonstrar plausível que o universo começou a existir e, portanto, não é eterno, até este ponto poder-se-ia demonstrar a superioridade do teísmo como uma cosmovisão racional.


Assim, há uma forma do argumento cosmológico muito negligenciada hoje, mas de grande importância histórica, que objetiva precisamente demonstrar que o universo teve um início no tempo9. Originada dos esforços dos teólogos cristãos para refutar a doutrina Grega da eternidade da matéria, este argumento desenvolveu-se em formulações sofisticadas através de teólogos Judeus e Islâmicos, que, em seguida, transmitiram-no de volta ao Ocidente Latino. O argumento, portanto, tem um vasto apelo inter-sectário, tendo sido defendido por Muçulmanos, Judeus e Cristãos, tanto Católicos como Protestantes.


O argumento, que denominei como argumento cosmológico de kalam, pode ser demonstrado como se segue:


1. Tudo que começa a existir tem uma causa para sua existência.


2. O universo começou a existir.


2.1 Argumento baseado na impossibilidade de um infinito real.


2.11 Um infinito real não pode existir.


2.12 Um regresso temporal infinito de eventos é um infinito real.


2.13 Portanto, um regresso temporal infinito de eventos não pode existir.


2.2 Argumento baseado na impossibilidade da formação de um infinito real pela adição sucessiva.


2.21 Uma coleção formada por sucessivas adições não pode ser realmente infinita.


2.22 A série temporal de eventos passados é uma coleção formada por sucessivas


adições.


2.23 Portanto, uma série temporal de eventos passados não pode ser realmente infinita.

3.Portanto, o universo tem uma causa para a sua existência.


Vamos examinar este argumento mais de perto.


Defesa do Argumento Cosmológico de Kalam


Segunda Premissa


Claramente, a premissa crucial neste argumento é (2), e dois argumentos independentes são oferecidos em suporte dele. Vamos, então, passar a examinar os argumentos que o amparam.


Primeiro Argumento de Suporte


Para se entender (2.1), precisamos entender a diferença entre um infinito potencial e um infinito real. Grosso modo, um infinito potencial é uma coleção que cresce em direção ao infinito como limite, mas nunca chega lá. Tal coleção é realmente indefinida, não infinita. O símbolo para este tipo de infinito, que é usado em cálculo é . Um infinito real é uma coleção em que o número de membros realmente é infinito. A coleção não está crescendo em direção ao infinito, ela é infinita, ela é “completa”. O símbolo para este tipo de infinito, que é usado na teoria dos conjuntos para designar conjuntos que possuem um número infinito de membros, tais como {1,2,3,…}, é . Ora, (2.11) sustenta, não que um número infinito potencial não possa existir, mas que um número infinito real de coisas não pode existir. Pois se um número real de coisas pode existir, então isto geraria todo tipo de absurdos.


Talvez a melhor maneira de trazer à tona a verdade de (2.11) é através de uma ilustração. Deixe-me usar uma de minhas favoritas, o Hotel de Hilbert, um produto da mente do grande matemático alemão, David Hilbert. Vamos imaginar um hotel com um número finito de quartos. Suponha, além disso, que todos os quartos estão ocupados. Quando um novo hóspede chega pedindo por um quarto, o proprietário se desculpa, “Sinto muito, todos os quartos estão ocupados”. Mas vamos imaginar um hotel com um número infinito de quartos e suponha mais uma vez que todos os quartos estão ocupados. Não há um simples quarto vago em todo o hotel infinito. Deste modo, suponha que um novo hóspede apareça pedindo por um quarto. “Mas é claro!” diz o proprietário, e ele imediatamente transfere a pessoa do quarto número 1 para o quarto número 2, a pessoa do quarto número 2 para o quarto número 3, a pessoa do quarto número 3 para o número 4, e assim por diante até o infinito. Como resultado desta mudança de quartos, o quarto número 1 agora se tornou vago e o novo hóspede faz o check-in com gratidão. Mas lembre-se, antes de ele ter chegado, todos os quartos estavam ocupados! Igualmente curioso, de acordo com os matemáticos, não há agora mais pessoas no hotel do que havia antes: o número é simplesmente infinito. Mas como isso pode acontecer? O proprietário acabou de adicionar o nome do novo hóspede no registro e deu-lhe suas chaves - como pode não haver mais uma pessoa no hotel do que antes? Mas a situação se torna ainda mais estranha. Suponha que um número infinito de novos hóspedes apareça no balcão pedindo por quartos. “É claro, é claro!” diz o proprietário, e ele prossegue em mudar a pessoa do quarto 1 para o quarto 2, a pessoa do quarto 2 para o quarto 4, a pessoa do quarto 3 para o quarto 6, e assim por diante infinitamente, sempre colocando cada ocupante original em um quarto cujo número seja o dobro do seu próprio. Como resultado, todos os quartos de número ímpar se tornarão vagos, e o número infinito de novos hóspedes é facilmente acomodado. Ainda assim, antes de eles chegarem, todos os quartos estavam ocupados! E novamente, de modo bastante estranho, o número de hóspedes no hotel é o mesmo depois do número infinito de novos hóspedes terem feito check-in, ainda que tenha havido tantos novos hóspedes quanto hóspedes antigos. De fato, o proprietário poderia repetir este processo infinitas vezes e ainda assim nunca haveria um único hóspede a mais no hotel do que antes.


Mas o Hotel de Hilbert é ainda mais estranho do que o matemático alemão demonstrou ser. Suponha que alguns dos hóspedes comecem a sair. Suponha que o hóspede no quarto 1 parta. Existe agora uma pessoa a menos no hotel? Não de acordo com os matemáticos - mas simplesmente pergunte para a mulher que arruma as camas! Suponha que os hóspedes dos quartos 1,3,5,… partam. Neste caso, um número infinito de pessoas deixou o hotel, mas de acordo com os matemáticos, não há menos pessoas no hotel - mas não converse com a mulher da lavanderia! Na verdade, poderíamos fazer com que cada hóspede saísse do hotel e repetir este processo infinitamente muitas vezes, e ainda não haveria menos pessoas no hotel. Mas, em vez disso, suponha que as pessoas dos quartos 4,5, 6,… partam. Em uma simples tirada o hotel se tornaria virtualmente vazio, o registro de hóspedes reduzido a três nomes, e o infinito convertido em finitude. E mesmo assim continuaria sendo verdadeiro que o mesmo número de hóspedes partiu desta vez como da vez em que os hóspedes dos quartos 1,3,5,… partiram. Alguém pode acreditar sinceramente que tal hotel possa existir realmente? Estes tipos de absurdos ilustram a impossibilidade da existência de um número infinito real de coisas.


Isto nos leva a (2.12). A verdade desta premissa parece claramente óbvia. Se o universo nunca começou a existir, então antes de agora houve um número infinito de eventos prévios. Portanto, uma série de eventos sem começo no tempo implica a existência de um número infinito real de coisas, ou seja, eventos passados.


Neste ponto pode ser proveitoso considerar algumas objeções que podem ser levantadas contra o argumento. Primeiro, vamos considerar as objeções a (2.11). Wallace Matson objeta que a premissa deve significar que um número infinito real de coisas é logicamente impossível; mas que é fácil mostrar que tal coleção é logicamente possível. Por exemplo, a série de números negativos {…-3,-2,-1} é uma coleção infinita real sem um primeiro membro10. O erro de Matson está em pensar que (2.11) significa afirmar a impossibilidade lógica de um número infinito real de coisas. O que a premissa expressa é a impossibilidade real ou factual de um infinito real. Para ilustrar a diferença entre a possibilidade lógica e a real: não há impossibilidade lógica de alguma coisa vir a existir sem uma causa, mas tal circunstância pode muito bem ser impossível de modo real ou metafísico. Da mesma forma, (2.11) declara que os absurdos conseqüentes na existência real de um infinito real mostram que tal existência é metafisicamente impossível. Portanto, alguém pode conceder que na esfera conceitual da matemática seja possível, dadas certas convenções e axiomas, falar consistentemente sobre séries infinitas de números, mas isto de maneira alguma implica que um número infinito real de coisas seja realmente possível. Pode-se notar também que a escola matemática de intuicionismo nega até mesmo que a série de números seja realmente infinita (eles consideram-na potencialmente infinita apenas), então apelar às séries de números como exemplos de infinitos reais é um procedimento controverso.